Crédito sustentável: o que significa e como avaliar?
O que torna um crédito sustentável a longo prazo?
Comprar casa, fazer obras ou reorganizar dívidas: em tempos de incerteza, muitas famílias continuam a recorrer ao crédito para concretizar objetivos importantes. Mas será que todas estas decisões são sustentáveis? O conceito de crédito sustentável ganha cada vez mais relevância — não basta conseguir um empréstimo, é preciso garantir que o crédito é compatível com o orçamento atual e não põe em causa a qualidade de vida futura.
O endividamento dos particulares aumentou 3,8% em 2024, atingindo 141,6 mil milhões de euros em janeiro, segundo o Banco de Portugal. Sem surpresa, a maior fatia continua a ir para o crédito à habitação: foram celebrados 90 mil contratos, mais 32% do que no ano anterior. O crédito automóvel também se manteve expressivo, com 224 mil novos contratos e um crescimento de 12% face a 2023.
Estes dados mostram que, mesmo num cenário de mais instabilidade, os portugueses continuam a recorrer ao crédito — o que reforça a necessidade de tomar decisões conscientes, baseadas numa avaliação realista da capacidade pessoal de endividamento.
O que torna um crédito sustentável a longo prazo?
Um crédito sustentável é aquele que pode ser assumido sem comprometer a saúde financeira a médio e longo prazo. Para fazer essa avaliação, além de analisar a taxa de juro e o valor da prestação inicial, ponderam-se outros fatores — como o impacto real no orçamento familiar, a estabilidade dos rendimentos e a existência de uma margem para lidar com imprevistos.
Antes de avançar com qualquer crédito — seja à habitação, pessoal ou automóvel — é fundamental analisar vários aspetos. Conheça três dos principais:
A taxa de esforço é realista?
A taxa de esforço é a percentagem do seu rendimento destinada ao pagamento do conjunto dos contratos de crédito. O Banco de Portugal recomenda que o total das prestações não ultrapasse metade (50%) do rendimento líquido (depois de impostos e contribuições obrigatórias para a segurança social). Contudo, os bancos costumam adotar critérios mais restritivos e, em geral, consideram que uma taxa de esforço prudente não deve exceder um terço (33%) do rendimento líquido familiar.
Imagine um agregado familiar com um rendimento líquido mensal de 1.800 euros. Se considerar uma taxa de esforço de 33%, o total das prestações de crédito não deveria ultrapassar 594 euros. Se já estiver a pagar um crédito pessoal com uma prestação de 250 euros, a nova prestação não deverá exceder os 344 euros.
Mas para uma avaliação ainda mais realista, que garanta um crédito sustentável, a Twinkloo recomenda que inclua no cálculo todas as despesas fixas mensais — como alimentação, saúde, educação, transportes, seguros, água e luz. Por exemplo, duas famílias com o mesmo rendimento podem ter capacidades de endividamento muito diferentes, consoante os seus encargos fixos mensais. Uma família que tenha despesas elevadas com saúde ou educação terá naturalmente menos margem para suportar uma nova prestação. O simulador de taxa de esforço permite fazer este cálculo facilmente. Pode também usar a calculadora de despesas para identificar onde o orçamento familiar está mais pressionado e planear ajustes.
Há margem de segurança no orçamento?
Idealmente, a prestação mensal de um crédito deve deixar espaço para imprevistos e para alguma poupança regular. Ter um fundo de emergência equivalente a seis meses de despesas fixas é uma boa prática de gestão orçamental.
Esta reserva financeira é fundamental para lidar com situações inesperadas, como perda de rendimento, despesas médicas ou reparações urgentes.
O crédito é compatível com os seus objetivos futuros?
Antes de avançar, pense no crédito a médio e longo prazo. Está preparado para manter esse compromisso se houver uma quebra de rendimento, um novo filho ou outras despesas inesperadas? Um crédito sustentável é aquele que continua viável mesmo com mudanças no contexto de vida.
Também é importante analisar o custo total do empréstimo. A TAEG (Taxa Anual de Encargos Efetiva Global) resume o que vai realmente pagar — não apenas os juros, mas também comissões, seguros obrigatórios e outras despesas associadas.
Para perceber todas as condições, consulte a FINE (Ficha de Informação Normalizada Europeia). Este documento, obrigatório desde 2014, deve ser entregue pelo banco ou intermediário antes da assinatura do contrato e contém, de forma clara e comparável, todas as características do crédito — incluindo prazos, taxas, comissões e encargos associados. Se o seu crédito é anterior a essa data, é natural que nunca tenha recebido uma FINE. Mas, mesmo nesses casos, pode sempre pedir ao banco um resumo atualizado das condições do contrato.
Quais são os sinais de alerta de um endividamento excessivo?
Alguns sinais podem indicar que o nível de endividamento já ultrapassou o razoável e que está a colocar em causa o equilíbrio financeiro. Estar atento a estes indícios pode evitar situações de incumprimento mais graves:
- Incapacidade de poupar ao final do mês;
- Atrasos no pagamento de prestações ou contas;
- Necessidade de recorrer a crédito para pagar outras dívidas;
- Stresse financeiro constante e instabilidade no orçamento.
A falha no pagamento das prestações de um crédito tem consequências sérias para o próprio e para a sua família. Além de aumentar o valor da dívida com juros de mora, comissões e outros encargos, o incumprimento fica registado na Central de Responsabilidades de Crédito do Banco de Portugal — e esse registo dificulta o acesso a novos financiamentos no futuro. Em situações mais graves, a instituição financeira poderá recorrer aos tribunais para recuperar o valor em dívida, o que, em última instância, pode levar à penhora de rendimentos ou à venda de bens.
Para evitar este desfecho, a reestruturação da dívida e a consolidação de créditos podem ser soluções a considerar. No primeiro caso é o próprio banco que altera as condições do crédito original — alargando o prazo ou estabelecendo um período de carência (em que só se pagam juros) ou ainda ajustando o valor da prestação —, para facilitar o pagamento. No segundo, opta-se por juntar vários créditos num só, geralmente através de uma nova entidade bancária, com o objetivo de obter melhores condições e simplificar a gestão dos encargos mensais.
Além das consequências financeiras, o endividamento pode ter impacto direto na saúde mental. De acordo com um relatório recente do Parlamento do Reino Unido, 24% dos adultos consideram que a sua situação financeira afeta o bem-estar psicológico. O mesmo documento revela que pessoas com dívidas problemáticas apresentam níveis significativamente mais elevados de ansiedade, stresse e sintomas depressivos. Esta evidência reforça a importância de decisões de crédito conscientes e ajustadas à realidade de cada um.
Boas práticas para manter o crédito sustentável e sob controlo
Para que o crédito seja uma ajuda valiosa — e não um obstáculo à sua tranquilidade — vale a pena seguir algumas boas práticas antes, durante e depois de o contratar.
O que fazer… Antes de assumir um crédito
Uma análise cuidada antes de contratar crédito pode evitar problemas futuros. Estes são os passos mais importantes.
- Comparar diferentes propostas, com atenção à TAEG, à FINE e aos seguros incluídos.
- Negociar prazos, spreads e comissões com os bancos — pode fazer diferença no custo final.
- Simular diferentes cenários económicos, como subida das taxas ou perda de rendimento.
- Avaliar a taxa de esforço e a estabilidade dos rendimentos, garantindo margem para imprevistos.
- Evitar prazos excessivamente longos, que aumentam o custo total do empréstimo.
Durante o contrato de crédito
Gerir bem o crédito ao longo do tempo ajuda a manter a estabilidade financeira:
- Rever periodicamente as condições do crédito e comparar com outras ofertas no mercado.
- Aproveitar campanhas de amortização sem comissões para reduzir o valor em dívida.
- Evitar novos créditos que comprometam a taxa de esforço.
- Manter o orçamento controlado, ajustando despesas sempre que necessário.
Depois de algum tempo ou se a situação mudar
Há decisões que podem melhorar as condições ou acelerar o fim do contrato:
- Avaliar a transferência do crédito para outra entidade com melhores condições.
- Considerar a consolidação de créditos, se tiver vários empréstimos em simultâneo.
- Evitar recorrer a crédito para pagar prestações em atraso — é sinal de que é preciso repensar o equilíbrio financeiro.
- Fazer amortizações parciais sempre que possível, para reduzir encargos futuros.
A literacia financeira continua a ser a melhor proteção contra o sobre-endividamento. Num momento em que o crédito parece acessível, mas os riscos nem sempre são visíveis, é essencial aprender a avaliar com realismo a capacidade de endividamento e planear com rigor.
A Twinkloo tem uma equipa de especialistas que podem ajudá-lo a encontrar soluções de financiamento mais ajustadas ao seu caso, seja através da transferência de crédito para outra entidade com melhores condições, da consolidação de créditos, da simulação de novas condições de crédito ou do aconselhamento sobre crédito. Tudo para que assuma um crédito sustentável, que sirva o melhor propósito possível: o de dar forma aos seus objetivos de vida.